A PRECE
O que é a prece?Poderíamos dizer que a prece é uma projeção do pensamento, a partir do qual irá se estabelecer uma corrente fluídica cuja intensidade dependerá do teor vibratório de quem ora, e nisto reside o seu poder e o seu alcance, pois nesta relação fluídica o homem atrai para si a ajuda dos Espíritos Superiores a lhe inspirar bons pensamentos. Por que pensamentos? Porque são a origem da quase totalidade de nossas ações. (Primeiro pensamos depois agimos). Poderíamos dizer também que a prece é uma invocação e que por meio dela pomos o pensamento em contato com o ente a quem nos dirigimos. A prece é a expressão de um sentimento que sempre alcança a Deus, quando ditada pelo coração de quem ora.
Qualidades da prece: As qualidades da Prece estão claramente definidas por Jesus; quando orardes, diz ele, não vos coloqueis em evidência, mas orai secretamente; não afeteis de muito orar, porque não é a multiplicidade das palavras que sereis atendidos, mas pela sua sinceridade; antes de orar, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, porque a prece não será agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade; orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu; examinai os vossos defeitos e não as vossas qualidades, e se vos compardes aos outros, procurai que há de mal em vós.(Cap. X nº 7 e 8).
Eficácia da prece: O que quer que seja que pedirdes na prece, crede que o obtereis, e vos será concedido. (São Marcos, cap. XI, V.24).
Há pessoas que contestam a eficácia da prece, e se baseiam no princípio de que, conhecendo Deus nossas necessidades, é supérfluo expor-lhas. Acrescentam, ainda, que tudo se encadeando no Universo por leis eternas, nossos desejos não podem mudar os decretos de Deus.
Sem nenhuma dúvida, há leis naturais e imutáveis que Deus não pode derrogar segundo o capricho de cada um; mas daí a acreditar que todas as circunstâncias da vida estão submetidas à fatalidade, a distância é grande.
Se assim fora, o homem não seria senão um instrumento passivo, sem livre arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, não teria senão que curvar a cabeça sob o golpe de todos acontecimentos, sem procurar revitá-los, não deveria procurar desviar o raio.
Deus não lhe deu o discernimento e a inteligência para deles não se servir, a vontade para não querer, a atividade para permanecer inativo. Estando o homem livre para agir, num sentido ou noutro, seus atos tem, para ele e para os outros, conseqüências subordinadas àquilo que faz ou deixa de fazer.
Seria ilógico concluir dessa máxima: “ o que quer que seja que pedirdes pela prece vos será concedido”, que basta pedir para obter, e seria injusto acusar a Previdência porque não cede a todo pedido que lhe é feito, pois ela sabe, melhor do que nós, o que é para o nosso bem. O mesmo ocorre com um pai sábio que recusa ao filho as coisas contrárias aos interesses dele.
O homem, geralmente, não vê senão o presente; ora, o sofrimento é útil à sua felicidade futura. Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa o doente sofrer uma operação, que deve conduzi-lo à cura.
O que Deus concederá, se dirige a ele com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. O que concederá, ainda, são os meios de sair por si mesmo da dificuldade, com ajuda das idéias que são sugeridas pelos bons espíritos, deixando-lhes assim, o mérito.
Assiste àqueles que ajudam a si mesmos, segundo essa máxima:
“Ajuda-te que o céu te ajudará”, e não àqueles que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das próprias faculdades; mas, geralmente, prefere-se ser socorrido por um milagre, sem nada fazer.(Cap.XXV, nº 1 e seguintes).
Ação da prece.Transmissão do pensamento
A prece é uma invocação; por ela um ser se coloca em comunicação mental com outro ser ao qual se dirige. Ela pode ter por um objeto um pedido, um agradecimento ou uma glorificação. Pode-se orar por si mesmo ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos.
As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos espíritos encarregados da execução das suas vontades; aqueles que são dirigidas aos bons espíritos são levadas a Deus. Quando se ora aos outros seres, senão a Deus, é apenas na qualidade de intermediários, intercessores, porque nada se pode fazer sem a vontade de Deus.
O espiritismo faz compreender a ação da prece explicando o modo de transmissão do pensamento, seja quando o ser chamado vem ao nosso apelo, seja quando nosso pensamento o alcança.
Quando o pensamento é dirigido a um ser qualquer, sobre a Terra ou no espaço, de encarnado a desencarnado, ou de desencarnado a encarnado, estabelece-se uma corrente fluídica de um para o outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente está em razão do vigor do pensamento e da vontade. Por isso, a prece é ouvida pelos Espíritos, em qualquer lugar em que eles se encontrem; os Espíritos se comunicam entre si, nos transmitem suas inspirações, os intercâmbios se estabelecem à distância entre os encarnados.
Essa explicação é , sobretudo, para aqueles que não compreendem a utilidade da prece puramente mística, e não tem por objetivo materializar a prece, mas tornar seu efeito inteligível, mostrando que pode ter uma ação direta e efetiva. Ela, por isso, não fica menos subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, único que pode tornar sua ação efetiva.
Pela prece, o homem chama para si o concurso dos bons Espíritos, que vêm sustentá-lo nas suas boas resoluções, e inspirar-lhe bons pensamentos; adquire assim, a força moral necessária para vencer as dificuldades e reentar no caminho reto se dele se afastou, assim como afastar males que atrai por sua própria falta.
Exemplo:Um homem,vê a sua saúde arruinada pelos excessos que cometeu, e arrasta, até o fim de seus dias, uma vida de sofrimentos; ele tem o direito de se lamentar, se não obtém a cura? Não, porque poderia encontrar na prece a força para resistir as tentações.
“A prece é recomendada por todos os Espíritos; renunciar à prece é desconhecer a bondade de Deus, é renunciar, para si mesmo, à sua assistência, e para os outros ao bem que se lhes podem faze”.
“O poder da prece está no pensamento; ela não se prende nem às palavras, nem ao lugar, nem ao momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em toda parte, a qualquer hora, sozinho ou em comum”.
“A prece em comum tem uma ação mais poderosa, quando todos aqueles que oram se associam de coração a um mesmo pensamento e tem o mesmo objetivo”. (Cap. XXVIII, nºs 4 e 5).
Preces inteligíveis: A prece não tem valor senão pelo pensamento ao qual se liga; ora, é impossível ligar um pensamento ao que não se compreende, porque o que não se compreende, não toca ao coração. Muitos orar por dever, alguns mesmo por hábito; por isso se crêem quites quando disseram uma prece, um número determinado de vezes, nesta ou naquela ordem. Deus lê no fundo dos corações, vê o pensamento e a sinceridade, e é rebaixa-lo crê-lo mais sensível à forma do que ao fundo. (Cap. XXVIII, nº 2).
Da prece pelos mortos e pelos espíritos sofredores: A prece é reclamada pelos espíritos sofredores; ela lhes é útil porque vendo que pensam neles, sentem-se menos abandonados, menos infelizes. Mas a prece tem sobre eles uma ação mais direta: reergue-lhes a coragem, excita-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação, e pode desvia-los do pensamento do mal.
Instruções dos espíritos – Maneiras de orar: O primeiro dever de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar-lhe o retorno à vida ativa de cada dia, é a prece. Quase todos vós orais, mas quão aos poucos sabem orar! Que importa ao Senhor as frases que ligais, maquinalmente, umas às outras, porque disso tendes hábito; é um dever que vos impondes e, como todo dever, vos pesa.
A prece do cristão, do Espírita, de qualquer culto que seja, deve ser feita desde que o espírito retomou o jugo da carne. Deve se elevar aos pés da majestade divina com humildade, num arrebatamento de gratidão por todos os benefícios concedidos até esse dia: pela noite que se escoou e durante a qual vos foi permitido, embora inconscientemente, retornar junto de vossos amigos, de vossos guias, para haurir, ao seu contato, mais força e perseverança. Ela deve se elevar humilde aos pés do Senhor, para lhes recomendar vossa fraqueza, pedir seu apoio, sua indulgência, sua misericórdia. Deve ser profunda, porque é vossa alma quem deve se elevar até o criador, que deve se transfigurar como Jesus no Tabor, e tornar-se alva e irradiante de esperança e de amor.
A alegria da prece: A prece!Ah ! Como são tocantes as palavras que saem da boca que ora! A prece é um orvalho divino que destrói o maior calor das paixões; filha primogênita da fé, ela nos conduz ao caminho que leva a Deus. No recolhimento e na solidão, estais com Deus; para vós não há mais mistérios, eles se vos revelam.
Referência Bibliográfica:
O Evangelho Segundo o Espiritismo – ALLan Kardec